Por
Samantha Brick
Num dos cantos encontrava-se a Alice,
uma mulher de 27 anos de personalidade forte que sempre dizia o que pensava -
independentemente do quanto que isso pudesse magoar os outros. No outro canto
encontrava-se a Sarah, uma mulher de altos vôos na casa dos 30, e que vincou bem
a sua posição. Mas depois começou a chorar e correu em direcção a casa de banho
das mulheres.
A sua efervescente discussão durou horas, instigada por
espectadoras que tomavam partido e incendiavam a raiva. Algumas raparigas
juntavam-se à discussão - quer seja importunando de modo agressivo ou
reunindo-se de modo defensivo na casa de banho. Pode parecer uma cena
espalhafatosa dum "Reality Show" tal como o "Big Brother, mas a verdade é um
pouco mais prosaica: este era um dia normal no meu escritório.
As
mulheres venenosas supostamente eram as empregadas talentosas que eu havia
escolhido a dedo como forma de atingir a minha utopia: uma empresa só com
mulheres, com operárias felizes e harmoniosas beneficiando da ausência de
homens. Era uma visão idealista rapidamente destruída pelo pesadelo da
realidade: comportamento queixoso constante, harmónios à solta, emoções
descontroladas, busca de atenção e rivalidade estética tão forte que separou por
completo a minha equipa.
Quando li no outro dia que Sienna Miller havia
dito que a "Irmandade Feminina" [Sisterhood] não existia, entendi o que ela
tinha em mente. Consigo entender o porquê das pessoas quererem acreditar que as
mulheres olham umas pelas outras - afinal, com os homens no poder nos empregos e
na política, faz sentido que nós nos unamos. Na verdade, houve uma altura na
minha vida em que acreditei na Irmandade Feminina -
mas isso foi antes de mulheres em guerra me
terem conduzido à ruína emocional e financeira.
O SonhoHá 5 anos atrás, eu trabalhava
para a TV como uma produtora-executiva ocupada a fazer programas para canais de
topo (como a MTV) e sediada em Los Angeles. Isto soa a um emprego de sonho e até
poderia ter sido - se eu fosse um homem. Trabalhar na TV era notoriamente
difícil para as mulheres. Existe por lá uma rede de amigos, um telhado de vidro
robusto e a maioria dos patrões são
homens misóginos.Gradualmente, aquilo que
começou como um devaneio - "
Não seria espantoso se
não existissem homens no local onde eu trabalho?" - transformou-se num
conceito excitante.
Decidi criar a primeira
empresa de produção 100% feminina onde mulheres espertas, inteligentes e
voltadas para a carreira pudessem trabalhar de forma harmoniosa, livres das
bravatas do sexo oposto.
Em retrospectiva, eu deveria ter aprendido com
as lições do meu passado - na minha escola secundária mista eu fui vítima de
bullying por parte dum gangue de raparigas maldosas e sempre prontas a chamar
nomes aos outros - portanto eu sabia bem como grupos de mulheres se poderiam
tornar. E trabalhando para TV, deparei-me com muitas mulheres super-competitivas
e enervadas que fariam qualquer coisa para chegar ao topo. Mas eu convenci-me
que, com as mulheres certas, as coisas seriam maravilhosas.
A realidadePortanto, em Abril de 2005,
deixei o meu emprego, re-hipotequei a minha casa , libertando perto de £100,000
- e comecei a pagar-me a mim própria apenas £700 por mês como forma de colocar
em marcha o meu negócio utópico. Havendo trabalhado de forma árdua durante 12
anos, eu tinha bastante experiência e uma boa reputação. O que é que poderia
correr mal?
Contratei uma equipa de 7 mulheres e instalei um escritório
em Richmond em Thames, Surrey. Embora as mulheres entrevistadas tenham alegado
sentir entusiasmo pela ideia, isso não as demoveu de pedir salários elevados.
Era justo, pensei eu na altura - elas eram profissionais e eu sabia que a
maioria delas eram talentosas e
conscienciosas porque eu já tinha trabalhado com
elas.Mas passada que estava uma semana, dois grupos exclusivos
haviam-se formado: aquelas que já tinham trabalhado juntas, e aquelas que
estavam a produzir "novas ideias". A maior parte dos dias gerava um momento
tenso onde algumas pessoas eram convidadas para o almoço ou pausa para café e as
outras não eram. Nunca era dito algo de forma explícita; a rejeição aguçada era
suficientemente óbvia. Mesmo quando íamos todas para o
pub, depois do trabalho, as divisões estritas
mantinham-se, e elas eram feitas óbvias através da forma como elas se sentavam
ao redor da mesa, e com quem é que se era - ou não - cordial.
A moda era
um enorme factor de divisão embora neste campo de batalha cada uma olhasse
apenas por si própria. Por mais
horrivelmente estereotipado e superficial que isto possa soar, as roupas eram uma
fonte enorme de comentários insinuosos - desde comentários
manhosos em torno da forma como algumas pessoas pareciam estar vestidas de forma
inapropriada para a ocasião, até aos méritos do bronzeado artificial.
Eu
sempre senti pena das mulheres que inocentemente exibiam a sua mais recente
compra no escritório, porque todas murmurariam de forma apreciativa
à sua frente, mas
pelas suas costas levantariam fortes críticas.
Isto aconteceu sempre - sem excepção.
A minha representante, a Sarah,
gerente-geral, mostrou inicialmente o quanto que o estilo importava quando ela
colocou um anuncio para uma assistente e recusou a rapariga melhor qualificada
porque esta não sabia distinguir Missoni de Marc Jacobs. A rapariga em questão
teria como funções fazer chá e recados. Mesmo assim, não contestei a decisão de
não a contratar porque eu tinha uma política de escolher cuidadosamente as
minhas batalhas.
O escritório parecia uma passarelle de Milão, mas com o
espírito competitivo dum evento "Miss Mundo" - e a baixa astucia dum evento de
luta na lama. Uma discussão em torno da moda acabou com uma amizade quando a
Sarah e a nossa jovem pesquisadora de desenvolvimento receberam o mesmo presente
de Natal - uma bolsa da marca Chloe Paddington no valor de £900. Quando elas se
encontraram no escritório, tendo consigo as bolsas, foi quase como um duelo ao
pôr do Sol. Elas bem forçaram alguns elogios, mas infelizmente para a minha
empresa, a relação nunca mais se recuperou.
Noutra altura, quando duas
mulheres da equipa compraram os mesmos jeans, uma proclamou: "
Ficam melhor em mim porque eu sou tamanho 8 e ela é
tamanho 10."
Não demorou muito tempo até que o escritório ficasse
dividido entre as meninas que usavam maquilhagem e aquelas que não usavam. Os
comentários típicos das mulheres que usavam maquilhagem incluíam coisas como
"
Será que ela não sabe o que é cobrir uma
mancha?" ou "
Será que ela alguma vez teve um
encontro com uma escova para o cabelo?", enquanto que os comentários -
pelas suas costas, naturalmente - das mulheres que não usavam maquilhagem eram
coisas do tipo "
As pessoas com quem ela se encontra
de manhã, no autocarro, devem pensar que ela é uma prostituta"; ou "
Ela tem a aparência duma baranga."
A
obsessão com a aparência significava que quase todas as mulheres do escritório
se encontrava numa dieta. Se eu trouxesse uma baguette com atum e maionese, eu
ouviria, de passagem, comentários que me qualificavam de "porca". E eu uso
tamanho 12. Duas das raparigas mais magras disseram
muitas vezes e depreciativamente, que "
Eu
cometeria suicídio se ficasse assim tão gorda." Isto foi em referência à
mulher mais gorda da escritório. Durante várias semanas uma das assistentes
assumiu o papel de polícia da alimentação, fingindo que lhes comprava café
expresso com cobertura espumosa de leite
sem gordura . . . . .
quando na verdade esses
lattes mantinham
toda a
gordura.
As funcionárias achavam perfeitamente aceitável fazer pausas no
trabalho - em vez de retirarem tempo das suas férias - para tratamentos de
beleza. Uma das raparigas chegava tarde com regularidade porque pintava o
cabelo; quando eu lhe falei nisto ela explodiu de raiva. Pelo menos ela tinha um
motivo; a maioria chegava tarde sem qualquer justificação ou motivo, e se eu
apontasse para o relógio, elas diziam coisas coisas do tipo "
Este foi o tempo que o meu comboio
demorou".
Olhando para trás, posso ver que deveria ter sido mais
rigorosa. O meu idealismo foi a minha perdição porque eu tentei ver a melhor
parte das pessoas; eu estava convencida de que elas se comportariam da mesma
forma que eram tratadas, e como tal, eu tratava-as amavelmente. Se eu tivesse
sido mais cínica, eu teria sido melhor sucedida.
A caminho do fimCom relativa frequência
eu encontrava-me fora do escritório tentando fechar contractos; no escritório,
entre elas, o trabalho era algo secundário que vinha depois das conversas em
torno das compras, dos namorados e das dietas - ah, sim, e depois dos
comentários maldosos por parte das minhas duas pesquisadores de desenvolvimento
que afiavam as suas unhas de acrílico contra outra mulher da equipa, a
Natasha.
Seis meses depois da companhia ter tido o seu início, as tensões
atingiram um ponto crítico quando uma das pesquisadoras levou o portátil da
Natasha e recuso-se a devolvê-lo. Nesse dia, fui forçada a cancelar as minhas
reuniões e a regressar ao escritório para resolver a situação. Embora a Sarah, a
minha gerente-geral, estivesse presente, ela recusou-se a envolver-se na
discussão porque ela não queria fazer o papel do "polícia mau". Apesar dela ser
a pessoa que se encontrava no comando da empresa durante a minha ausência, ela
receava a perspectiva de ser vítima de comentários maldosos;
era como se num ambiente 100% feminino, a equipa fosse
incapaz de manter os seus papéis previamente
definidos.
Rapidamente, as discussões tornaram-se ocorrências
diárias que começavam com comentários entre duas mulheres e então, à medida que
outras se juntavam, a emoção e a raiva cresciam até a erupção - gritos e
profanidades - que deixavam sempre alguém em lágrimas. As amigas da mulher que
foi atacada seguiam-na, então, para a consolar, deixando um grupo no escritório
e outro na casa de banho das mulheres. Seguidamente, estes dois grupos
concentrariam-se em fazer comentários enervantes um contra o outro, e nenhum
trabalho era feito.
As coisas chegaram a tal ponto que eu escrevi um
manual para a equipa descrevendo a forma como elas deveriam ser simpáticas umas
com mas outras. O tema do manual centrava-se na ideia de ser respeitosa com
todas e tratar todas as pessoas de forma igual - recebendo mensagens de forma
correcta quer elas fossem para mim ou para alguém de escalão inferior. Eu disse
também que a crítica e os sussurros passavam a ser proibidos no escritório.
Embora as pessoas tenham lido o manual e tenham dito ter adorado a ideia, em
termos prácticos não se verificou qualquer tipo de diferença.
Muitas
mulheres eram agressivas ou defensivas, ou ambas. As mais agressivas escondiam
uma lista enorme de inseguranças envolvidas com a sua natureza mais
extrovertida, enquanto que as mais defensivas só se abriam quando eram
provocadas. No entanto, o pior tipo de mulheres que encontrei eram as
"passivas-agressivas" - as piores do grupo -
que te atiravam impiedosamente ao chão de forma doce e
despretensiosa e tu só te apercebias do
que tinha acontecido muito depois do evento. Ela esconde as suas palavras
perversas por trás de frases floreadas; uma das mulheres da minha equipa disse:
"
Eu não quero ser maldosa, mas neste momento não
aguento estar na mesma sala e respirar o mesmo ar que tu."
Corações Partidos e Hormonas
DescontroladosMas a maior força dentro do escritório não eram as
personalidades mas os hormonas. Quando uma mulher começou com o tratamento para
uma FIV ("Fertilização in Vitro"), ela libertou no escritório toda a sua raiva,
sem aviso e sem qualquer tipo de pedidos de desculpas. Durante "aquela altura do
mês" - que num escritório composto só por mulheres significava que havia sempre
alguém "naquela altura do mês" - qualquer temperamento era rapidamente passado
para o resto da equipa por osmose.
Os hormonas vinham em segundo lugar no leque de
desculpas para a ausência e para o mau temperamento. Em primeiro lugar estavam
os problemas românticos. Quando uma das mulheres acabou o seu namoro com o
parceiro, ela disse-me de forma clara (por email) que eu deveria "
ser super compreensiva e sensível em relação ao seu
trabalho." Uma verdadeira
"drama
queen", as suas lágrimas continuaram por uma semana. Naturalmente, as
suas inimigas dentro do escritório deliciaram-se com o seu coração
partido.
Outra rapariga, que fazia malabarismo entre duas relacionamentos
ao mesmo tempo, instruiu todas as mulheres do escritório sobre o que dizer a
qualquer um dos dois homens se por acaso algum deles ligasse para o escritório.
Outra mulher tinha um apetite sexual voraz e, num ambiente totalmente feminino,
não via nada de mal em divagar detalhadamente sobre as suas sessões e maratonas
sexuais. Recebi queixas frequentes àcerca da sua linguagem rude.
Eu
ainda me consigo lembrar do nome dos parceiros das mulheres da equipa do
escritório, e dos seus casos, porque isso interferia frequentemente com o
trabalho no escritório. Profissionalmente no entanto, a companhia prosperava de
alguma forma. Garantimos as comissões de dois programas - um para a ITV e uma
série para a Living TV - e passamos a ter dinheiro para um escritório novo no
Oeste de Londres. Mas isto gerou mais uma explosão por parte da Sarah uma vez
que ela pagava para ter uma permissão de estacionamento enquanto outra rapariga
tinha o direito a um espaço livre (dado pelo senhorio do prédio). Durante uma
discussão enorme, a Sarah disse que a rapariga tinha ultrapassado o seu escalão,
ao que a rapariga respondeu "Azar!" Elas nunca mais falaram uma com a
outra.
O efeito da falta de testosterona no nosso escritório foi ainda
mais aparente quando nós contratamos temporariamente dois homens para directores
de filmes (para trabalhar numa série); os operadores de câmaras normalmente eram
homens devido ao peso do equipamento. Depois da chegada destes homens, a equipa
subitamente tornou-se mais calma, mais trabalhadora e muito menos perversa -
isto aconteceu, parcialmente, porque elas
estavam demasiado ocupadas a namoriscar os homens.
Duas das
raparigas atacaram um dos directores de forma clara, mesmo sabendo que ele vivia
com a namorada. Esta namorada não teve chances nenhumas contra o
flirt incansável que o namorado recebia, e foi
trocada por uma das duas raparigas que conseguiu vencer a sua
afeição.
Sempre que tínhamos reuniões com homens, a equipa tornava-se
feroz -
cada uma delas tentando provar que era a
mulher mais sexy da sala. Com um comissãrio do Channel 4, uma das
empregadas disse "Observem isto!", metendo a mão no seu sutiã e torcendo os seus
mamilos. O homem e eu ficamos sem palavras.
Neste clima, eu nem me
atrevia a contratar homem algum devido à distracção e - pior ainda! - devido às
guerras entre as mulheres que isso criava. Odeio o quanto isto soa a
esteriótipo, mas isto é o que eu apurei ser a verdade. E embora eu me mantenha
firme na minha decisão inicial de ter excluído os homens - porque eles têm vida
fácil na TV - se eu tivesse a oportunidade de voltar a fazer as coisas,
eu contrataria homens. Na verdade, eu
só contrataria
homens.
Lucrando quase meio milhão no primeiro ano deveria significar
lucro, mas isto foi eliminado pelos elevados salários e pelos erros de
tesouraria. Foi então que começamos a ter problemas com o
cash-flow, e a Sarah meteu baixa por motivos
de stress durante um mês. Ela confessou também que havia começado a evitar
chamadas de pessoas a quem nós devíamos dinheiro, efectivamente manchando a
reputação da minha firma.
Por essa altura, eu andava de avião entre a
Grã-Bretanha e os EUA lidando com uma equipa fracionada em Londres e produtores
excêntricos Los Angeles. Ninguém sabia por andava a minha gerente-geral (Sarah),
as contas não tinham sido pagas e a tensão no escritório era palpável. Para
injectar dinheiro no negócio, vendi os meus dois carros, mas era já demasiado
tarde; em Março de 2007 eu dei falência - menos de 2 anos depois de ter formado
a empresa.
Conclusão:Embora eu não me absolva da
culpa,
acredito que o negócio foi
arruinado pela inveja destrutiva e pelas guerras internas da equipa 100%
feminina. O seu egoísmo e as suas inseguranças levaram a minha companhia
para a falência.
Quando eu precisei da assim conhecida "Irmandade
Feminina", acreditem no que vos digo, ela não existia.
* * * * * *
*
Samantha foi enganada pela retórica da "opressão" às mulheres
alegadamente feita pelas empresas de TV, no entanto, a sua experiência de vida,
e a ruína da sua empresa, demonstram a falência desta linha de pensamento. A
ignorância da natureza da mulher por parte de muitos idiotas úteis leva-os a
enveredar por caminhos e estilos de vida que invariavelmente entram em colapso.
Samantha pagou com a sua saúde (e com as suas finanças) a sua fé na mitologia da
"opressão"; algo que ela não teria que passar se ela soubesse que os meios
profissionais não "discriminam" as mulheres (e nem há telhado de vidro algum
para além do qual as mulheres supostamente estão proibidas de
atravessar).
Se os homens estão em maior número numa dada área
profissional, invariavelmente isso deve-se ao seu esforço masculino e não à uma
mitológica e não substanciada rejeição do input laboral
feminino.
Samantha, tal como muitas outras mulheres, teve que passar por
esta experiência desgatante para aprender que o meio laboral não foi feito para
a psicologia feminina. A quantidade de informação que lhe foi disponibilizada
previamente mostrando que o meio laboral é um meio masculino não lhe serviu de
anda; ela teve que PASSAR por isso para aprender.